![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKuosO2xX7Nprh1rMXDtj6s1PVEVMW8_kwa3cfZAYgU0uOHllocHMr7BwmzLR4U-eMze3D1y4kAZfvkHxOzeeqcKvTQK6gHtJgIcjNQKlgFewH0dZhzrLcZeRR5ZwmfSVrLC2bjw-T3LI/s400/Cabelo6.jpg)
“Acontece-me às vezes, e sempre que acontece
é quase de repente, surgir-me no meio das sensações
um cansaço tão
terrível da vida que não há sequer
hipótese de ato com que dominá-lo. (...)
É um cansaço que ambiciona não o deixar de existir – o que pode ser ou pode não ser possível – mas uma coisa muito horrorosa e profunda, o deixar de sequer ter existido, o que não há maneira de poder ser.(...).
O fato é que me creio o primeiro a entregar a palavras o absurdo sinistro dessa sensação sem remédio.
E curo-a com o escrevê-la.
Sim, não há desolação, se é profunda deveras, desde que não seja puro sentimento, mas nela participe a inteligência, para que não haja o remédio irônico de a dizer.
Quando a literatura não tivesse outra utilidade, esta, embora para poucos, teria.
Os males da inteligência, infelizmente doem menos que os do sentimento, e os do sentimento, infelizmente menos que os do corpo.
Digo infelizmente porque a dignidade humana exigiria o avesso. (...)
Escrevo
como quem dorme, e toda minha vida
é um recibo por assinar.
Fernando Pessoa, ‘Livro do Desassossego
Adoro esse livro do Fernando Pessoa.
Começando pelo título, "Livro do Desassossego" Acho a palavra "desassossego" linda.
O mais especial, para mim, é que ali ele fala de sensações que parecem indizíveis - o livro todo é isso: um dizer o indizível.
Aliás, toda sua obra poética consiste nesse belo exercício, mas no 'Livro do Desassossego' ele vai ao extremo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário