04 abril 2009

CLARICE LISPECTOR ...


"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada...
Porque no fundo a gente não está querendo al
terar as coisas.
A gente está querendo de
sabrochar de um modo ou de outro..."
Nascida em 1920, na Ucrânia e falecida em 1977, no Rio de Janeiro.
Ela veio para o Brasil aos dois meses de i
dade, criou-se no Recife e mudou-se para o Rio de Janeiro aos doze anos.

Formou-se em Direito e, aos dezessete anos, escreveu seu primeiro livro, o romance "Perto do Coração Selvagem".


Na obra de Clarice Lispector, a caracterização das personagens e as ações são elementos secundários.


Importa-lhe captar a vivência interior
das personagens e a complexidade de seus aspectos psicológicos.

Daí resultam uma narrativa introspectiva e o monólogo interior, em que muitas vezes percebe-se o envolvimento do narra
dor, ficando difícil estabelecer as fronteiras entre narrador e personagens.

Essa centralização na consciência contribui para a digressão, a fragmentação dos episódios e o desencadeamento do "fluxo de consciência", isto é, a expressão direta dos estados mentais, nos quais parece manifestar-se dir
etamente o inconsciente, do que resulta certa perda da seqüência lógica.

Na trilha filosófica do existencialismo, Clarice enfatiza a angústia do homem diante de sua liberdade para escolher o curso que deseja dar à sua vida.

Essa escolha é necessária, já que sua existência não está predeterminada, e a maneira de cada indivíduo ser e estar n
o mundo e entendê-lo resulta de sua própria opção.

Assim, ele tem a liberdade de optar por uma vida autêntica e questionadora, mas isso provavelmente o levará a enxergar um mundo absurdo em que nada faz
sentido e, conseqüentemente, a afundar-se num abismo de perplexidades.

Por outro lado, pode refugiar-se na banalidade do cotidiano e nos ;interesses imediatos, limitados e efêmeros, os
quais certamente nunca o deixarão plenamente satisfeito.
As narrativas de Clarice Lispector quase sempre focalizam a epifania, um momento de revelação, um momento especial em que a personagem defronta-se subitamente com a verdade.


O Livro Desconhecido...


Estou à procura de um livro para ler...


É um livro todo especial.

Eu o imagino como a um rosto sem traços.


Não lhe sei o nome nem o autor.


Quem sabe, às vezes penso que estou à procur
a de um livro que eu mesma escreveria.

Não sei.
Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado.

Uma das fantasias é assim: eu o estaria lendo e de súbito, a uma frase lida, com lágrimas nos olhos diria em êxtase de dor e de enfim libertação: "Mas é que
eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!"



Clarice Lispector in "A Descoberta do Mundo" Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1999



Não soltar os cavalos...


Como em tudo, no escrever também te
nho uma espécie de receio de ir longe demais.

Que será isso?


Por que? Retenho-me, como se retivesse
as rédeas de um cavalo que pudesse galopar e me levar Deus sabe onde.

Eu me guardo.


Por que e para quê?


Para o que estou eu me poupando?

Eu já tive clara consciência disso quando uma vez escrevi: "é preciso
não ter medo de criar".

Por que o medo?


Medo de conhecer os limites
de minha capacidade?

Ou medo do aprendiz de feiticeiro que não sabia
como parar?

Qu
em sabe, assim como uma mulher que se guarda intocada para dar-se um dia
ao amor, talvez eu queria morrer toda inteira
para que Deus me tenha toda.




Clarice Lispector


(1920-1977)

Um comentário:

CARLA FABIANE... disse...

Às vezes é preciso destravar as portas,
abrir todas as janelas,
destravar os cintos da insegurança
e decolar...
Para assistir a terra de luneta,
comer pipoca sentado na lua,
escorregar pelas pontas das estrelas,
dançar no ventre das nuvens,
sonhar em outros planetas.”